Olá, eu sou um cão de caça



Sou um cão de caça. Nasci com uma função outorgada por muitas gerações de antepassados.
Nas minhas veias correm os genes de outros cães de caça. Os meus antecessores eram selvagens. Muito selvagens! Naquela época até tinhamos um grande rival, chamado Homem. Competíamos pelas mesmas presas, pois o nosso instinto de sobrevivência e o deles era semelhante.
Aos poucos compreendemos que podíamos ser amigos e ambos lucrarmos com isso. Aos poucos conquistamos a sua confiança. Aos poucos eles aprenderam a confiar em nós. Aprendemos a viver por perto. A seguir eles aprenderam a viver conosco. Passamos-lhes algumas das nossas pulgas e eles deram-nos o calor e a segurança dos seus abrigos. Penso que foi uma troca justa. Ainda hoje eles se coçam e nós continuamos seguros e resguardados do frio. 



Quando iam à caça, nós iamos junto. É verdade que o nariz deles não servia para grande coisa, coitados. Mas o nosso chegava e sobrava para todos. Eles tinham outras técnicas para matar as presas (é verdade), mas sem nós nunca as encontrariam.
Na repartição da caça não eram muito justos, mas aquilo que restava para nós ainda era suficente. Afinal, eles eram apenas nossos sócios e nós queriamos ser também seus amigos. Nunca discutimos as partilhas.
Ao longo da história nem sempre fomos bem tratados, é verdade. Mas se calhar foi porque não estivemos à altura daquilo que esperavam de nós. Para ser franco, estes humanos ainda hoje são dificeis de compreender. Por muito que façamos para lhes agradar, às vezes não somos bem entendidos. A culpa só pode nossa. Não vejo outra hipótese. Afinal eles hoje são animais racionais e nós continuamos apenas a ser cães e, de certeza, os seus melhores amigos...
Eu tenho um companheiro humano que é o meu melhor amigo!