O Alentejo e o paradigma do mundo rural



Não é segredo nenhum que adoro o Alentejo. Talvez por isso seja suspeito, mas - e como eu costumo dizer - preciso de ir, regularmente, descansar os olhos no seu esplendor. Basicamente, gosto de ir ao Alentejo por dois motivos: por tudo e por nada...
Dito isto, estou regressado de passar alguns dias que serviram para treinar os cães, recarregar baterias e fazer uma prova de Santo Huberto. Desta vez tive o privilégio da companhia da minha mulher, a Rita, que também se enquadra perfeitamente neste espírito.





Por convite do meu amigo Paulo Vieira (Meiguices, para os amigos), gestor cinegético da magnifica ZCT da Herdade de Píncaros, onde me colocou à disposição o seu fantástico campo de treino - para além da sua companhia, é claro - sediamos em Mora durante três dias. 









A escolha do alojamento não foi difícil, uma vez que existem várias opções na zona. Embora algumas ainda não estejam e funcionar, por causa da pandemia, optamos por ficar em Brotas, nas Casas de Romaria, local por nós já conhecido e onde ficamos várias vezes. Trata-se de um empreendimento de alojamento local, inserido mesmo no centro da aldeia. São casas recuperadas, totalmente funcionantes e com todo o conforto necessário. 



Quem quiser confecionar as suas refeições tem, inclusive, uma cozinha totalmente apetrechada. Mais típico é difícil e a simpatia da Maria, dona do empreendimento, é uma mais valia.




Entre os treinos, os almoços e os jantares, foram dois dias muito bem passados. Podemos degustar os mais típicos pratos alentejanos e adquirir os tão famosos e apreciados, produtos das região. Os queijos e os enchidos são exlibris desta zona. E já para não falar do pão! Hummm, o pão alentejano... É claro que "pão, pão", é o da padaria do Abundâncio Pinto! O Sr. Abundâncio, do alto dos seus 90 anos, ainda é quem manda. Mai nada!
Desde a cabidela, da Emília, até às migas de espargos com carne de alguidar, no O Alentejano, foi uma autêntica orgia de sabores. 

 




No sábado havia prova de Santo Huberto em Assumar. Esta tinha como objectivo ajudar uma instituição de apoio social, o Centro de Dia de N.Sª dos Milagres, de Assumar. Se por mais não fosse, só por isso já estava justificada a viagem.




Foi a primeira prova que se realizou após o último confinamento, por isso as inscrições (33), esgotaram apenas em 15 minutos. 
A concentração foi junto da igreja em Assumar, de onde partimos depois para os terrenos da prova. Cumprindo as directivas de DGS, o local era muito amplo e permitiu que houvesse todo o distanciamento social que se espera nestas alturas. 
Tive o "azar" de ser o último dos 11 concorrentes a entrar em prova, porém também beneficiei de o terreno já estar seco, embora estivesse mais calor. O pasto estava muito alto, tendo dificultado o trabalho dos cães. Por isso decidi à última hora fazer a prova com a Eva. A sua primeira prova a sério! Sendo a mais nova (2 anos), também teria mais disponibilidade física. E esta prova exigiu muito dos canitos. Correu bem, ficamos em segundo lugar na nossa série e com muito boas indicações para o futuro.


 



Após a prova fizemos o chamado pic-nic campal. Hoje em dia, e cumprindo as regras, não há o tradicional almoço de convívio nas provas de Santo Huberto. Numa tentativa de minimizar riscos, os intervenientes espalham-se por uma ampla área ao ar livre e cada um "faz pela vida".
Estas refeições acabam por ser verdeiros festivais gastronómicos, pois cada um leva algo e depois, tudo junto, transforma-se numa grande refeição!




Afinal, isto é aquilo a que eu chamo de usufruir do interior e do mundo rural. Se não fossem os caçadores e a caça, como teria sido movimentada a economia local desta zona? Mais, estamos fora da época cinegética mas, ainda assim, uma actividade ligada à caça - o Santo Huberto - fez funcionar a hotelaria, a restauração, a produção de caça e a solidariedade! 
O mundo rural - e tudo aquilo a ele associado - está sobre na mira dos urbanitas e não pelas melhores razões como as que acabo de descrever. Estes querem fazer do mundo rural, e das suas actividades, um parque temático de fim-de-semana, onde vão fazer selfies com cara de parvos e florzinhas por fundo, com a legenda de que são ecologistas e se preocupam com as abelhas. Pois é, mas é quem dá de comer às abelhas durante todo o ano?...




Tudo isto não é mais, nem menos, do que aquilo que é o mundo rural e não há dinheiro que pague o podermos usufruir desta realidade! Que a ditadura do gosto nunca consiga acabar com esta nossa paixão: a caça, o campo, a gastronomia tradicional e o inigualável convívio a eles associado!