Viagem a Carvalhais, Mirandela e a Couve Penca




Conhecida também por couve portuguêsa, a couve penca (como é conhecida cá no norte), é uma das tradições do Natal. Acompanha o bacalhau na noite de consoada e, juntamente com as batatas, era a chamada "comida dos pobres" de antigamente. 
Hoje em dia o "fiel amigo" já não é comida de pobre, mas a tradição ainda é o que era.









Carvalhais é uma pequena aldeia às portas de Mirandela, concelho de Vila Real, no coração de Trás-os-Montes. E se Mirandela é conhecida pelas suas alheiras, Carvalhais é o pelas pencas. Poder-se-á mesmo dizer que é a "capital da couve penca". 
Na semana que antecede o Natal muita gente se desloca a Carvalhais para adquirir a famosas couves. Sensível a isso, a Junta de Freguesia de Carvalhais organiza anualmente uma feira, que se realiza no domingo anterior ao Natal. 



 












Num ritual de cumplicidade, e na simbiose que deve caracterizar a relação entre a caça e o mundo rural, de há quatro anos a esta parte, é incluída no programa da feira uma prova de Santo Huberto. 
Uma vez mais se prova que agricultores e caçadores podem (e devem), estar unidos por interesses comuns.

Esta prova de Santo Huberto tem algumas particularidades que a distinguem de muitas outras. Tem um grande envolvimento do habitantes locais. Posso mesmo afirmar que é uma organização única da autarquia, dos agricultores e do povo de Carvalhais. A forma calorosa como somos recebidos, ano após ano, faz com que tenhamos de lá voltar. Desde logo as refeições, que são feitas no Largo da Feira e confecionada em plena calçada. 




Às 7.00h da manhã, já o madeiro está aceso! Será ele que irá aquecer o ambiente (costuma estar muito frio), fazer as brasas para o pequeno almoço e assar as famosas alheiras e as linguiças transmontanas. Tudo isso acompanhado por fatias de pão caseiro, cortado à navalha. 



 Segue-se a partida para os terrenos da prova, que ficam a uns 10 minutos de carro.  Os campos são muito típicos daquela região, compostos por giestal, olival, zonas cultivadas e de pouzio. Para quem caçou muitos anos em Trás-os-Montes (como eu), dá inclusivamente para matar saudades.
O frio é tradicional nesta época do ano e a chuva desta vez também fez a sua aparição. Mas nada que estragasse a festa!




O almoço é no mesmo local (Largo da Feira), após o termino da prova. Os assadores entram em funcionamento e as alheiras, as liguiças, as entremeadas, as feveras, etc, fazem as delícias daqueles que chegam com muita fome. Não faltam as pencas cozidas no pote de três pernas! E posso-vos afirmar que não há pencas como aquelas, cozidas assim.
 









 Esta é uma refeição partilhada com o povo da aldeia, concorrentes da prova e visitantes. É assim que somos recebidos, sem cerimónias, mas com grande espirito de comunidade. 





Após o almoço segue-se a visita aos stands da feira. Aproveita-se a oportunidade para comprar artigos que não se encontram nas grandes cidades e, se se encontrarem, não têm a mesma qualidade. São "coisas da Terra", produzidas por gente da terra!










Azeitonas, azeite, queijos, grelos, cebolas, nozes, feijão, licores caseiros... enfim, tudo aquilo que a terra dá. E a qualidade, essa é sempre a mesma. A qualidade de quem faz e produz por paixão.

Carvalhais é um destino obrigatório antes do Natal. Não precisa de ir participar na prova de Santo Huberto, mas pode ser até um bom pretexto para passar uma manhã "cinegética", comprar produtos naturais e cumprir a tradição.



Para o ano realizar-se-á a V Prova de Stº Huberto da Feira da Penca de Carvalhais. Vamos?