A caça, a pesca e o mundo rural


A sociedade está permanentemente em mudança. Há quem lhe chame evolução, mas será que é mesmo isso? Até que ponto essa pretensa "evolução" não estará a destruir todo um património cultural de séculos? 

A desertificação do interior do país, fez com que, mesmo aqueles que nasceram no meio rural, acabassem por negar as suas origens. Modas? Sem duvida! Mas se há modas que são inócuas, outras há - como neste caso - acarretam uma enorme perda. Um povo que se envergonha da sua história e tradições, não pode ter grandes objectivos. As diferenças do passado devem fazer parte do processo de evolução e só evoluímos se aceitarmos essas mesmas diferenças. Querer reescrever a história, só nos conduz ao abismo da ingratidão.

Segunda consta, 60% da população portuguesa está sediada no litoral, ou a menos de 25Km da costa e maioritariamente dentro e na periferia de grandes cidades. Em meio século, o interior perdeu quase 40% das pessoas. (TSF)
Todas as actividades relacionadas com o mundo rural estão a ser percepcionadas por quem não o conhece e - pior ainda - o avalia por parâmetros fantasiosos dignos de um filme da Disney...

A caça, a pesca, a produção agrícola e pecuária, transformaram-se numa espécie de "coisa", que a actual sociedade "urbano-assexual-asséptica-depressiva", vê como algo incompreensível e ultrapassada. Quiçá criminosa!
Alô, meus caros amigos citadinos militantes: os frangos e as costeletas de porco não nascem dentro das cuvettes, nas prateleiras dos supermercados! E caso pensem o contrário, até aquelas alfaces e os tomates que tanto gostais, passaram pelas mãos calejadas de um agricultor.

Eu nasci na segunda maior cidade do país. A tal Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta e que historicamente sempre foi um bastião de resistência e de gente inconformada. Sou rebelde por natureza e é por isso que não me conformo com os constantes ataques ao interior rural e a tudo que ele está associado. Amo a caça, a pesca e o ar livre. Enfim, tudo que ao meio rural diz respeito. As suas tradições, os costumes, a gastronomia, mas - e acima de tudo - as suas gentes, que lutam de forma desigual e abnegada contra o centralismo urbanita. 
Um povo que renega a sua história e tradições, é um povo sem futuro. 

No que à caça diz respeito, é importante entender os movimentos inorgânicos que começam a surgir. Exemplo disso é o movimento #JuntosPeloMundoRural. É um fenómeno análogo ao que se verificou com as actividades profissionais (motoristas, enfermeiros, etc). Resumindo, os caçadores acham que os seus tradicionais representantes lhes estão a falhar e procuram outras alternativas e soluções. É por isso que procuram respostas entre seus pares.
Na minha perspectiva, um dos maiores erros das nossas OSCs, é que não entenderam a vontade daqueles que deviam representar. Basta fazer um périplo pelas redes sociais para se ter essa noção. Uma das coisas que me surpreende, é as mesmas organizações não terem ainda essa noção. Hoje em dia não basta existir, há que fazer prova de vida. 
A nossa paixão - e o mundo rural em si - está sob permanente ataque e censura. Sectores da sociedade, animalistas e anti-caça, fazem sempre de nós, caçadores, os maus da fita. Alguém que está ultrapassado no tempo e fazendo parte de um passado de que nos devemos envergonhar. Para esses eu tenho uma mensagem: "- Sou caçador e com muito orgulho!"

Não me cabe a mim dar conselhos aos dirigentes das nossas OSCs. A maior parte deles já por cá anda há tempo suficiente para saberem interpretar os sinais. Mas, talvez fosse boa ideia estarem mais atentos. Eu sei que o estado de emergência em que estamos não facilita nada a intervenção junto das instituições, porém já houveram outros tempos em que tal era bem mais fácil e nada de importante foi alcançado.

Penso que é hora de se cerrar fileiras. Deixar de lado o passado e olhar apenas para o futuro. 
Se juntos já somos poucos, divididos seremos ainda mais irrelevantes. 
Como eu costumo dizer: - Às vezes é preciso incomodar!